quarta-feira, outubro 24, 2007

Como te sentirias?

Imagina que, num dia como outro qualquer, em que vais caminhando pela rua, descontraidamente e sem pressas, encontras um cachorrinho abandonado. Ele está encolhido, desconfortável num canto e cheio de medo das pessoas. Observando de mais perto, constatas que ele foi maltratado; daí o medo dele. Cheio de pena, levas-lo para casa, limpas-lo, dás-lhe de comer e entras em contacto com uma instituição que cuida de animais abandonados para o acolherem. No entanto, crias uma afeição pelo animal. De tal modo que sentes algo dentro de ti que te leva a preocupares-te com ele, a ires visitá-lo frequentemente, levando-lhe comida e atenção. E ele recompensa-te de tal modo que reage melhor à tua presença do que à das pessoas da instituição. E então, pensas: "Vou adoptá-lo e levá-lo para casa e dar-lhe tudo o que ele merece." E sais dali decidido. Arrumas a tua casa de modo a que ele se sinta confortável, num espaço só para ele. Informas-te sobre o que fazer para legalizar a posse do cachorrinho e dás a conhecer às pessoas da instituição da tua firme intenção de o adoptar, sendo elogiado por isso. Afinal de contas, adoptar um animal abandonado é um acto nobre. E, no dia em que vais buscá-lo, não o encontras. Informam-te que outra pessoa o levou. Perguntas quem foi. Pelo nome, percebes que é uma pessoa que também ía lá olhar pelos animais e que esperou o cachorrinho estar em melhores condições para ficar com ele.
Alguém se aproveitou do teu trabalho. Alguém se aproveitou da tua paciência. Alguém se aproveitou do teu tempo. Alguém se aproveitou do carinho, afeição e amor que dispensaste. Resumindo, estiveste a preparar terreno e alguém aproveitou-se do teu esforço para seu benefício.

Quanta frustração é que sentirias?
Quanta raiva terias acumulada?
Quanto ódio terias a inundar o teu coração?
E quanta seria a tua vontade de te vingares?


P.S. Caso não esteja perceptível, o "cachorrinho" é apenas uma metáfora; a situação real é sobre outra coisa.


"The Merchant of Venice" - 3º acto, 1ª cena

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Oh diabo! Era uma febra?

28/10/07, 23:18  

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