Há muitas formas de abordar a vida. E claro está que isso depende muito de como as coisas correm a cada um. Há quem tenha construído autêntico um mundo cor-de-rosa onde, aparentemente, tudo corre sempre bem, todos os sonhos se concretizam tal e qual como se imaginam, não há desilusões, não há sofrimento. Por outro lado, há quem nada corre bem, tudo é uma desilusão constante, um contínuo de decepções e azares. No meio, há aqueles que passam por uma situação ainda mais brutal e incrível: por um conjunto de acontecimentos pontuais ou contínuos, são levados a crer que tudo é um mar de rosas não se apercebendo que a perfeição total é, tal como a morte, uma impossibilidade que não se consegue contrariar e, quando num momento único, em que a beleza da força de ideias ou factos que compõem a verdade que não se consegue esconder rompem um escudo de falsidades criando sentimentos terríveis que podem mesmo levar uma pessoa a questionar o porquê da sua própria existência e o porquê da sua triste sorte.
A minha vida dava um filme. Esta frase já foi dita e redita tantas vezes que já não se sabe bem quem foi o primeiro ou primeira a citá-la mas continua a fazer cada vez mais sentido nas pessoas que se encontrarem nas duas últimas situações que descrevi no primeiro parágrafo. Ao longo de pouco mais de 25 anos de existência, cruzei-me com um número incontável de pessoas nos diversos locais onde estive presente e posso afirmar que aquelas que conseguiram criar um significado para mim, tocaram-me de alguma forma cá dentro e a sua essência ainda persiste viva dentro de mim.
Sou sentimentalista. Não do género de andar a chorar pelos cantos da casa porque o meu animal de estimação morreu mas sim por sentir tristeza por esse mesmo facto; tal como em todas os outros aspectos da vida, eu não consigo ter uma atitude fria na hora de escolher, esperar, fazer... E isso faz com que eu crie expectativas à volta de tudo o que me rodeia. Bem, de tudo não; há um ponto em particular em que me deixei disso há muito tempo. Mas disso falarei mais à frente.
Actualmente, tenho o meu espírito envolvido em muita coisa ao mesmo tempo. Digo muita coisa pois, mesmo tratando-se de coisas que não têm a minha atenção constante, podem acontecer a qualquer momento ou estarem planeadas para uma possível ocorrência futura e como eu não considero qualquer acontecimento como impossível mas sim inevitável, não sou apanhado de surpresa com facilidade.
Crio expectativas por tudo aquilo que acho que terá alguma importância na minha vida, mesmo que não venha a ter ou não me envolva directamente. A minha vida profissional envolvendo tanto os meus projectos no IST a nível académico como as actividades extra-curriculares e a minha vida pessoal preenchem o meu dia-a-dia de uma forma que originam um misto de sentimentos que perfazem a totalidade do meu ser. Claro está que isto tudo não é mais do que, tal como afirmei logo no início deste texto, uma consequência de como a minha vida me tem corrido. Esperei entrar para o IST e para o curso que pretendia e consegui, fiz força para tirar a carta de condução no momento certo e consegui apesar de hoje não lhe reconhecer grande importância, desejei que a minha entrada no secundário depois de 5 anos seguidos no mesmo grupo de amigos fosse tranquila e acabei por receber muito mais e melhor do que podia esperar, fiz força para que o meu trabalho final de curso fosse de uma determinada temática e consegui e agora espero um emprego onde realizarei o tipo de trabalho que sei estar preparado e, acima de tudo, que mais gosto e prazer me dá, fazendo de mim alguém que pode ser usado como exemplo de produtividade do emprego certo, para além de que criei a expectativa de voltar a fazer parte do grupo de amigos da Ana e isso aconteceu, embora muito mais tarde do que pensava, mas não deixou de acontecer. Há outras situações mais que poderia enumerar e descrever e estaria aqui o resto do dia. A vida quando quer pode tornar-se algo do mais agradável possível. Mas também pode-nos pregar uma facada nas costas. Há uns dias estive a falar com uma pessoa que passou por uma situação complicada a nível pessoal que a deixou muito maltratada por dentro. De tal modo que já não cria expectativas sobre nada. Um dia de cada vez, diz ela, com calma e vendo o que aparece sem criar ilusões. Como eu a compreendo; as ilusões que ela criou e a forma como foram falsamente criadas e abruptamente destruídas com uma enormidade de efeitos secundários que ainda hoje duram. Felizmente, nunca me aconteceu nada parecido. Já fui maltratado no passado, mais que uma vez, em situações tão diferentes e estúpidas que nem o próprio diabo se lembraria de fazer, se descesse à Terra. Aqui criei expectativas que foram completamente abalroadas e que me fizeram encarar a vida duma forma mais pragmática e fria do que muita gente esperaria. E, às vezes, tenho a sensação de que se deixar de pensar nas coisas e me abstrair de quaisquer sentimentos envolventes, acabo por ser recompensado mais grandemente do que esperaria. E assim continua a ser até hoje.
No entanto, como já afirmei anteriormente, há um aspecto no qual não crio expectativas. Quem lida comigo com regularidade sabe do que falo: mulheres. E porquê, perguntam-me. Porque é que eu, como homem, não crio expectativas com mulheres, já que ando no meio delas desde sempre, nunca me isolei, nunca desprezei, porque pareço não lhes dar importância? A resposta é simples. Muito simples. Porém, é complicado de compreender para muitas pessoas. É complicado porque nunca passaram por nenhum período das suas vidas como eu tenho passado a totalidade da minha a ser olhado como um pneu sobresselente.
Quando estou com uma mulher, nunca abdicando da minha boa educação e respeito merecidos, nunca perco tempo a imaginar cenários que a envolvam. As mulheres nunca mostram qualquer interesse amoroso por mim. Por isso, não perco tempo com expectativas inconsequentes. O sexo feminino sempre teve uma forma muito própria de lidar comigo. Será por algum motivo físico? Será por algum motivo psicológico? Será pelos dois tipos? Não faço ideia... É a única questão relacionada com a minha existência para a qual não tenho resposta.
Pensemos num cenário hipotético: uma mulher mostra interesse em estar comigo, combina irmos a determinado local em determinado dia fazer determinada coisa e acaba por desistir à última hora, apresentando motivos variados como ser precisa noutro lugar, ter surgido uma urgência, qualquer coisa... e depois venho a saber que, na realidade, mentiu-me para sair com outro homem. Há muita gente que ficaria irritada no meu lugar, furiosos mesmo. Eu não. Não me incomoda pois não estava à espera de ganhar nada dali. Mas isso não quer dizer que não venha a retribuir mais tarde... Uma rejeição deste género não me tira o sono, não me tira a vontade de comer, não me põe a chorar de manhã à noite e não me faz ficar escondido num quarto um dia inteiro. E porquê? Porque não quero saber. Porque já não quero saber. Porque deixei de acreditar. Mas há quem fique impressionado pela minha frieza ao encarar uma situação destas, em concreto, as minhas amigas mais próximas. Dizem-me que eu devia preocupar-me, devia querer saber, devia interessar-me. Pois... mas estes conselhos vêm de pessoas que sempre tiveram relações estáveis, a maior parte delas de longa duração, algumas já casadas, outras a casar ou até com filhos. Os seres humanos são todos diferentes. O sexo feminino nunca se interessou por mim dessa forma. É claro que quando faço anos todas me ligam a dar parabéns, todas me dão as boas festas pelo Natal, todas se preocupam comigo, que ando a fazer, que novidades tenho para contar... e mais nada. Excepto quando precisam de mim para alguma coisa. Daí a minha metáfora do "pneu sobresselente": quando é preciso, usa-se; quando não é...
As mulheres não criam qualquer esperança destas em mim. Fizeram com que eu as encarasse assim. Neste aspecto, sou como a minha amiga: sem expectativas. Não há ilusões, não há cenários, não há tretas. Logo, não há desilusões. O que vier de bom é ganho; o que vier de mau não importa. Não há nada a perder.
Tendo em conta o que escrevi neste texto e no post anterior, é fácil de deduzir que a minha decepção não tinha nada a ver com mulheres. E é verdade.
Desde que me envolvi no NEIIST, tenho feito um esforço para que tudo ande para a frente e tenho aproveitado a minha experiência à frente da SINFO como catalisador de sucesso. O NEIIST tem feito tudo para ajudar a melhorar as condições dos estudantes do curso que representa. Agora, surgiu um problema inesperado. O Departamento de Engenharia Informática decidiu construir uma biblioteca nova numa parte dum pavilhão nosso que estava arrendado ao Departamento de Economia e Gestão com a premissa que o pessoal do DEG iria para outro pavilhão com condições próprias para eles. Para forçar esta mudança, o DEI decidiu fechar a biblioteca antiga e construir aí um laboratório novo que está em funcionamento há 2 anos. Agora, surgiu o inesperado: o Conselho Directivo do IST decidiu que metade dos espaços novos para o DEG seriam para um novo grupo orgânico a criar dentro do IST e o pessoal do DEG já não quer sair de onde está, compreensivelmente. A biblioteca é um bem fundamental para qualquer estudante. E, por arrasto, o próprio NEIIST também fica prejudicado pois no espaço que seria liberto também seria criada a nova sala do NEIIST. E eu tenho-me esforçado muito para gerir os fundos do NEIIST precisamente para tratarmos adequadamente desse novo espaço e já demos conhecimento ao DEI. Esta nova situação é uma reviravolta completa.
Decepcionado. É como me sentia nesse dia...