Estava a ler um artigo sobre um homem que matou uma rapariga e o pai dela estava a dizer que queria que o homicida pagasse pelo erro mas não pela própria vida pois essa não teria sido a escolha da filha, se tivesse sobrevivido e porque, para ele, a vingança não é opção. E agora digo eu, porque não? Porque é que uma pessoa ou pessoas, que tenha sido fortemente maltratada, não há-de responder? Por vezes, a justiça legal não chega para pôr as coisas certas. Por vezes há algo mais que tem de ser feito, há uma questão pessoal a ser tratada entre as entidades em confronto. Mas há um aspecto a ter em conta: não confundir vingança com violência. E aquí pode-se fazer uma distinção clara entre dois grupos: aqueles que pensam com o coração e aqueles que pensam com a razão. Os que pensam com o coração, respondem por impulso, sem pensar e geralmente recorrem à violência, tanto verbal como física e psicológica e, no momento em que fazem esta opção, por muita razão que tenham, perdem-na logo e ninguém apoiará; estão a ser estúpidos, a descer a um nível ainda mais baixo que aqueles que erraram e estão condenados ao fracasso. No outro lado, há os que pensam com a razão e que estão condenados ao sucesso, felizmente se as intenções forem boas, infelizmente se as intenções forem más. Uma pessoa que pensa com a razão, não cai em erros estúpidos e não responde de qualquer maneira. Ela avalia bem todas as opções, estuda todos os caminhos, espera o tempo que for necessário, aprende, é paciente... Observa e toma nota mas nunca interfere. Sim, porque num jogo, mais importante que conhecer as regras do jogo, é conhecer o adeversário, as suas fraquezas, os seus erros. Até à altura certa para agir. Por exemplo, quem nunca ouviu falar no romance brilhantemente escrito por Alexandre Dumas Pai, o Conde de Monte Cristo? Um homem, que se dedica apenas a fazer o bem, a viver cada dia em harmonia com os que lhe estão à volta, família, amigos e amar uma mulher que gosta dele por tudo o que é e tem para dar, é acusado e condenado por algo que não fez nem tem sequer a ver, apenas porque três pessoas queriam-no ver fora de cena, um por ciúmes, o outro por inveja e o terceiro porque não queria perder o seu status quo. E quando conseguiu fugir da prisão, ele só tinha um pensamento: fazê-los pagar. Mas ele não agiu à doida. Ele passou vários anos a preparar-se e a estudá-los sobre qual a melhor forma de agir. E ele não fez nada de incorrecto, ele não mentiu, ele não inventou. A única coisa que fez foi ter-se aproveitado das asneiras, das falhas, dos defeitos dos seus oponentes e usou-os contra eles. Sem violência de qualquer forma, sem tirar vidas. E qual foi o resultado? O que tinha ciúmes e lhe roubou a mulher, simplesmente perdeu-a e ao filho quando ela descobriu a verdade do que tinha acontecido e o abandonou e, com o desgosto, matou-se com um tiro na cabeça. O que agiu por inveja ficou na misária completa, com pouco dinheiro e sem nada nem ninguém que quisesse saber dele. O terceiro, numa base de esquemas muito bem desenhados envolvendo os filhos, enlouqueceu. E ele teve a sua vingança. Simples, directa e eficaz. E, depois de, na prisão, ele ter amaldiçoado o amor por julgar a traição de quem amava, ele redescobriu-o na pessoa de outra mulher. Apesar de ser apenas ficção, mostra bem como fazer as coisas bem feitas. Nada pode ser feito à sorte. Não se pode esperar pela sorte. Isto não é um jogo de Poker. Isto é um jogo de Xadrez. As jogadas têm de ser muito bem delineadas. Falhar não é opção. Não se pode basear o sucesso numa mera probabilidade aleatória. O sucesso tem de ser construído. E claro que não se pode esquecer de quem apoia quem faz mal. Se há quem leve a melhor, escolhendo o caminho errado, só têm sucesso nos seus intentos porque são apoiados, porque há quem lhes dê ouvidos. Não podem pensar que serão esquecidos ou ignorados. Existe uma lei da Física que diz que a uma acção há uma reacção com a mesma força, na mesma direcção mas em sentido oposto. É uma certeza matemática. Não há como escapar. A vingança é um prato que se serve frio. E quem tiver legitimidade, tem direito a ela, seja nesta vida ou na próxima. De uma forma ou de outra, a justiça acaba por chegar. E o inferno chegará com ela. Não é impossível. É inevitável.
Fernand Mondego: Monte Cristo!
Edmond: King, to you Fernand.
Fernand Mondego: Edmond? How did you...
Edmond: Escape? With difficulty. How did I plan this very moment? With pleasure!
Fernand Mondego: So, it was you that stole Mercedes.
Edmond: And everything else. Except your life.
Fernand Mondego: Why are you doing this?
Edmond: [
pauses] It's complicated. Let's just say it's vengeance from the life that you stole from me!
Alexandre Dumas' The Count of Monte Cristo - 2002